Este artigo aborda o engajamento global de alguns intelectuais africanos que lutaram pela independência da África lusófona. Para tanto, este estudo utiliza um enfoque geopolítico, baseado em arquivos recentemente disponibilizados em diversas formas e multilíngues. Ampliando a pesquisa acadêmica dedicada à geopolítica subalterna, culturas de descolonização e estudos críticos de desenvolvimento, eu demonstro a performance de diplomacias subalternas conduzida por líderes políticos como Amílcar Cabral, Mário Pinto de Andrade, Agostinho Neto, Eduardo Mondlane e Marcelino dos Santos, no sentido de chamar a atenção para as suas causas em meio a acadêmicos, ativistas e políticos de diferentes níveis (de movimentos de base a líderes de Estado e organizações internacionais) através das divisões entre os blocos da Guerra Fria e os campos do “Primeiro”, do “Segundo” e do “Terceiro” Mundos. Meu argumento é que esses esforços terminaram por abalar narrativas predominantes de desenvolvimento e ideias eurocentradas de assimilação, parcialmente devido a sua ênfase na educação e na produção de histórias e geografias subalternas que foram instrumentais para a construção nacional de novos países descolonizados oriundos da então chamada “África Portuguesa”. Na década de 1960 e no início da década de 1970, esses intelectuais usaram as armas da cultura, da comunicação pública e da formação de redes transnacionais enquanto dispositivos que foram tão importantes quanto os resultados alcançados por seus companheiros guerrilheiros em campos de batalha. Além disso, essas narrativas confirmam a importância dos arquivos para a reconstituição de redes cosmopolitas, multilíngues e diaspóricas, bem como de sua espacialidade, além de permitirem a elaboração de uma geopolítica crítica a partir de perspectivas que não sejam centradas a partir do Ocidente ou de um ponto de vista anglófono, o que leva, desse modo, à decolonização da geografia.
Federico Ferretti (2022). Geopolíticas da descolonização: As diplomacias subalternas da África lusófona (1961-1974) = Geopolitics of decolonisation: the subaltern diplomacies of Lusophone Africa (1961-1974). TERRA BRASILIS, 17, 1-28 [10.4000/terrabrasilis.10988].
Geopolíticas da descolonização: As diplomacias subalternas da África lusófona (1961-1974) = Geopolitics of decolonisation: the subaltern diplomacies of Lusophone Africa (1961-1974)
Federico Ferretti
2022
Abstract
Este artigo aborda o engajamento global de alguns intelectuais africanos que lutaram pela independência da África lusófona. Para tanto, este estudo utiliza um enfoque geopolítico, baseado em arquivos recentemente disponibilizados em diversas formas e multilíngues. Ampliando a pesquisa acadêmica dedicada à geopolítica subalterna, culturas de descolonização e estudos críticos de desenvolvimento, eu demonstro a performance de diplomacias subalternas conduzida por líderes políticos como Amílcar Cabral, Mário Pinto de Andrade, Agostinho Neto, Eduardo Mondlane e Marcelino dos Santos, no sentido de chamar a atenção para as suas causas em meio a acadêmicos, ativistas e políticos de diferentes níveis (de movimentos de base a líderes de Estado e organizações internacionais) através das divisões entre os blocos da Guerra Fria e os campos do “Primeiro”, do “Segundo” e do “Terceiro” Mundos. Meu argumento é que esses esforços terminaram por abalar narrativas predominantes de desenvolvimento e ideias eurocentradas de assimilação, parcialmente devido a sua ênfase na educação e na produção de histórias e geografias subalternas que foram instrumentais para a construção nacional de novos países descolonizados oriundos da então chamada “África Portuguesa”. Na década de 1960 e no início da década de 1970, esses intelectuais usaram as armas da cultura, da comunicação pública e da formação de redes transnacionais enquanto dispositivos que foram tão importantes quanto os resultados alcançados por seus companheiros guerrilheiros em campos de batalha. Além disso, essas narrativas confirmam a importância dos arquivos para a reconstituição de redes cosmopolitas, multilíngues e diaspóricas, bem como de sua espacialidade, além de permitirem a elaboração de uma geopolítica crítica a partir de perspectivas que não sejam centradas a partir do Ocidente ou de um ponto de vista anglófono, o que leva, desse modo, à decolonização da geografia.File | Dimensione | Formato | |
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