As recentes imagens do bairro Coppedè de Roma, assim como as de muitos edifícios Liberty, entre os quais, para citar um único exemplo elucidativo, o Grand Hotel des Thermes de Salsomaggiore, mostram obras, na maior parte dos casos acuradamente reportadas a estado de novo, sobretudo, mas não apenas, no que respeita às fachadas, em que prevalece a vontade de querer reconduzir as superfícies às verdadeiras, ou presumidas, cores originais. Infelizmente esse modo de proceder revela, na realidade, pouca atenção conservativa e uma prática de “restauro” responsável, em vários casos, por danos irremediáveis às obras que foram objeto de intervenção. Os chamados cimentos decorativos, as vidraçarias policromadas, as maiólicas, os ferros forjados e os estuques são os materiais que mais caracterizam a exuberante decoração naturalística da arquitetura do período Liberty. Os cimentos decorativos, em especial, constituem um dos aspectos mais inovadores ligados ao período, sobretudo em relação ao vivo debate em torno dos temas da arte e da indústria. Para além dos estudos – aprofundados e articulados naquilo que se refere ao estilo Liberty (e as diferentes declinações que se desenvolveram no começo do século XX), mas muito menos desenvolvidos naquilo que respeita aos materiais, técnicas e metodologias inerentes à tecnologia dos aparatos decorativos então difundidos – um ponto nodal do tema são as consequências que uma pesquisa superficial, conduzida no vasto campo do “restauro do moderno”, traz para as práticas de conservação, e que deriva, em última análise, da “falta de reconhecimento e de interesse, por parte da historiografia crítica, artística e arquitetônica […]. Poucas são as pesquisas específicas a esse respeito, e ainda menos numerosos os aprofundamentos de natureza tecnológica e científica, voltados a indagar os materiais, modalidades de execução, procedimentos em relação aos acabamentos, à coloração das argamassas, à execução e assim por diante. Dessa falta de reconhecimento derivam uma escassa atenção conservativa e uma prática de restauração tanto modesta quanto, muito frequentemente, errada e capaz de danificar as próprias obras objeto de intervenção […]. Que se pense […] nos riscos que está correndo o bairro Coppedè e em muitíssimos outros casos, sempre em Roma, que sofreram, sobretudo nas últimas décadas – com a benção da superintendência dos monumentos, então completamente orientada a formas de repristinação, de ‘refrescar’ fachadas –, restituição das presumíveis cores originais e não a simples, acurada, conservação dos antigos testemunhos, inclusive daqueles considerados ‘menores’. Mas aquilo que foi dito para Roma vale para a maior parte do nosso País” (da CARBONARA, G. Il restauro del nuovo e il tema dei cementi decorativi in GIOLA, V. Cementi decorativi Liberty. Storia, tecnica, conservazione. Roma: Quasar, 2009).

O Bairro Coppedè de Roma: a negação do restauro, entre a repristinação e a reconstrução / N. SANTOPUOLI; F. MAIETTI. - In: PÓS. REVISTA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO DA FAUUSP. - ISSN 1518-9554. - STAMPA. - .........:(2011), pp. 216-224.

O Bairro Coppedè de Roma: a negação do restauro, entre a repristinação e a reconstrução

N. SANTOPUOLI;
2011

Abstract

As recentes imagens do bairro Coppedè de Roma, assim como as de muitos edifícios Liberty, entre os quais, para citar um único exemplo elucidativo, o Grand Hotel des Thermes de Salsomaggiore, mostram obras, na maior parte dos casos acuradamente reportadas a estado de novo, sobretudo, mas não apenas, no que respeita às fachadas, em que prevalece a vontade de querer reconduzir as superfícies às verdadeiras, ou presumidas, cores originais. Infelizmente esse modo de proceder revela, na realidade, pouca atenção conservativa e uma prática de “restauro” responsável, em vários casos, por danos irremediáveis às obras que foram objeto de intervenção. Os chamados cimentos decorativos, as vidraçarias policromadas, as maiólicas, os ferros forjados e os estuques são os materiais que mais caracterizam a exuberante decoração naturalística da arquitetura do período Liberty. Os cimentos decorativos, em especial, constituem um dos aspectos mais inovadores ligados ao período, sobretudo em relação ao vivo debate em torno dos temas da arte e da indústria. Para além dos estudos – aprofundados e articulados naquilo que se refere ao estilo Liberty (e as diferentes declinações que se desenvolveram no começo do século XX), mas muito menos desenvolvidos naquilo que respeita aos materiais, técnicas e metodologias inerentes à tecnologia dos aparatos decorativos então difundidos – um ponto nodal do tema são as consequências que uma pesquisa superficial, conduzida no vasto campo do “restauro do moderno”, traz para as práticas de conservação, e que deriva, em última análise, da “falta de reconhecimento e de interesse, por parte da historiografia crítica, artística e arquitetônica […]. Poucas são as pesquisas específicas a esse respeito, e ainda menos numerosos os aprofundamentos de natureza tecnológica e científica, voltados a indagar os materiais, modalidades de execução, procedimentos em relação aos acabamentos, à coloração das argamassas, à execução e assim por diante. Dessa falta de reconhecimento derivam uma escassa atenção conservativa e uma prática de restauração tanto modesta quanto, muito frequentemente, errada e capaz de danificar as próprias obras objeto de intervenção […]. Que se pense […] nos riscos que está correndo o bairro Coppedè e em muitíssimos outros casos, sempre em Roma, que sofreram, sobretudo nas últimas décadas – com a benção da superintendência dos monumentos, então completamente orientada a formas de repristinação, de ‘refrescar’ fachadas –, restituição das presumíveis cores originais e não a simples, acurada, conservação dos antigos testemunhos, inclusive daqueles considerados ‘menores’. Mas aquilo que foi dito para Roma vale para a maior parte do nosso País” (da CARBONARA, G. Il restauro del nuovo e il tema dei cementi decorativi in GIOLA, V. Cementi decorativi Liberty. Storia, tecnica, conservazione. Roma: Quasar, 2009).
2011
O Bairro Coppedè de Roma: a negação do restauro, entre a repristinação e a reconstrução / N. SANTOPUOLI; F. MAIETTI. - In: PÓS. REVISTA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO DA FAUUSP. - ISSN 1518-9554. - STAMPA. - .........:(2011), pp. 216-224.
N. SANTOPUOLI; F. MAIETTI
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Utilizza questo identificativo per citare o creare un link a questo documento: https://hdl.handle.net/11585/866857
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