O que tecnicamente é chamado de desaparecimento forçado proporciona um motivo relevante de reflexão sobre o contexto do autoritarismo militar no Brasil. Limitado numericamente em relação a outros contextos latino-americanos, o caso brasileiro é no entanto significativo pela sua antecedência histórica e pela definição de um dispositivo complexo de violência do estado. Em muitos casos a eliminação integral dos corpos das vítimas e a impossibilidade do trabalho do luto projetam o conceito de restituição para um plano predominantemente simbólico. O romance denso e fragmentário de Bernardo Kucinski, K. (2011) problematiza esta questão teórica: o biográfico é radicalmente reformulado no plano ficcional mas não é, por isso, paradoxalmente menos "real", proporcionando uma restituição neste sentido do passado. Isto permite assumir a literatura e a ficção como um território potencial de restituição efetiva e afetiva para tecer uma memória pública dos desaparecidos políticos e, de modo mais geral, dos traumas repressivos dos anos do autoritarismo militar.
Vecchi, R. (2016). Catástrofe identitária e autoritarismo militar: revocalizações literárias. IBEROAMERICANA, 62(XVI), 43-51 [10.18441/ibam.16.2016.62.43-51].
Catástrofe identitária e autoritarismo militar: revocalizações literárias
VECCHI, ROBERTO
2016
Abstract
O que tecnicamente é chamado de desaparecimento forçado proporciona um motivo relevante de reflexão sobre o contexto do autoritarismo militar no Brasil. Limitado numericamente em relação a outros contextos latino-americanos, o caso brasileiro é no entanto significativo pela sua antecedência histórica e pela definição de um dispositivo complexo de violência do estado. Em muitos casos a eliminação integral dos corpos das vítimas e a impossibilidade do trabalho do luto projetam o conceito de restituição para um plano predominantemente simbólico. O romance denso e fragmentário de Bernardo Kucinski, K. (2011) problematiza esta questão teórica: o biográfico é radicalmente reformulado no plano ficcional mas não é, por isso, paradoxalmente menos "real", proporcionando uma restituição neste sentido do passado. Isto permite assumir a literatura e a ficção como um território potencial de restituição efetiva e afetiva para tecer uma memória pública dos desaparecidos políticos e, de modo mais geral, dos traumas repressivos dos anos do autoritarismo militar.I documenti in IRIS sono protetti da copyright e tutti i diritti sono riservati, salvo diversa indicazione.