Dentro da Seinsfrage, a questão do ser, surge a Werfrage, a questão do «quem». Quem é este «quem»? Ou, por outras palavras, quem sou eu? Ao questionar o ser, questionamo-nos inevitavelmente a nós próprios. Mas se-ria possível conceber a Werfrage antes ou, no limite, em tensão com a Seins-frage? Esta interrogação, por paradoxal que pareça, tem legitimidade histo-riográfica, se considerarmos que a «antropologia fenomenológica», tal co-mo a concebeu o jovem Heidegger, precede a formulação da Seinsfrage. Desde os seus primeiros cursos em Freiburg (1919/20), Heidegger procura estabelecer um acesso à subjetividade entendida em termos de «ipseidade mundana», através de uma análise da Allgemeine Psychologie de Natorp. Ao criticar Natorp, que negava sem reservas tal possibilidade, Heidegger acaba, no entanto, por concordar com mais do que uma das teses da Allge-meine Psychologie. Esta é a nossa hipótese de leitura: o eu, para o jovem Heidegger, só existe à custa de uma tensão entre facticidade e existência; uma tensão que, aos olhos de Natorp, conduz à constatação de que o eu, em sentido estrito, não pode ser – o que nos permitiria pôr em evidência o ca-rácter problemático da relação entre ipseidade e mundo no seio da qual a formulação da Werfrage encontra a sua condição de possibilidade.
Emanuele Mariani (In stampa/Attività in corso). Ser-aí sem existir. O jovem Heidegger leitor de Natorp. São Paulo : Editora Saber Criativo.
Ser-aí sem existir. O jovem Heidegger leitor de Natorp
Emanuele Mariani
In corso di stampa
Abstract
Dentro da Seinsfrage, a questão do ser, surge a Werfrage, a questão do «quem». Quem é este «quem»? Ou, por outras palavras, quem sou eu? Ao questionar o ser, questionamo-nos inevitavelmente a nós próprios. Mas se-ria possível conceber a Werfrage antes ou, no limite, em tensão com a Seins-frage? Esta interrogação, por paradoxal que pareça, tem legitimidade histo-riográfica, se considerarmos que a «antropologia fenomenológica», tal co-mo a concebeu o jovem Heidegger, precede a formulação da Seinsfrage. Desde os seus primeiros cursos em Freiburg (1919/20), Heidegger procura estabelecer um acesso à subjetividade entendida em termos de «ipseidade mundana», através de uma análise da Allgemeine Psychologie de Natorp. Ao criticar Natorp, que negava sem reservas tal possibilidade, Heidegger acaba, no entanto, por concordar com mais do que uma das teses da Allge-meine Psychologie. Esta é a nossa hipótese de leitura: o eu, para o jovem Heidegger, só existe à custa de uma tensão entre facticidade e existência; uma tensão que, aos olhos de Natorp, conduz à constatação de que o eu, em sentido estrito, não pode ser – o que nos permitiria pôr em evidência o ca-rácter problemático da relação entre ipseidade e mundo no seio da qual a formulação da Werfrage encontra a sua condição de possibilidade.I documenti in IRIS sono protetti da copyright e tutti i diritti sono riservati, salvo diversa indicazione.