Na atualidade, em diferentes contextos e nacionalidades, como Brasil e Itália, inúmeros episódios de banimento e práticas discriminatórias contra integrantes de grupos ciganos têm sido verificados, fortalecendo as relações de conflito entre os universos cigano e não cigano. Representando os ciganos na generalidade, as mulheres ciganas são o principal alvo dadiscriminaçãocontra essa categoria social, sofrendo duplo preconceito em função da pertença étnica e de gênero. Apoiada na perspectiva não consensual da Teoria das Representações Sociais, proposta pela Escola de Genebra, a proposição deste estudo visa à análise dos diferentes níveis de ancoragem (social, psicológica e psicossocial) para a identificação das posições individuais frente aos diversos núcleos de significados que constituem as representações sociais de mulheres ciganas entre jovens brasileiros e italianos. Participaram da investigação 643 sujeitos (324 italianos e 319 brasileiros), com idade média de 22.81 anos (SD=5.73), sendo 74,33% do sexo feminino. A coleta dos dados foi realizada por meio da aplicação de questionários nas instituições italianas Universidade de Bolonha e Universidade de ChietiPescara e em Universidades pública e privadas da Grande Vitória/ESBrasil. O instrumento de coleta dos dados era constituído pelos seguintes tópicos de informação: dados socioeconômicos, técnica de associação livre para o termo indutor ‘mulheres ciganas’, campo afetivo frente aos ciganos e valores sociais autoatribuídos pelos sujeitos da representação, bem como experiência de contatos com membros de grupos ciganos. O tratamento dos dados foi realizado por meio da análise fatorial de correspondência e da análise de cluster, procedida com o auxílio do software SPADT. Os resultados demostraram que o campo compartilhado foi composto por 3.004 associações livres, com média de evocação de 4.7 por participante, compreendendo significados predominantemente hegemônicos, fundamentados na dimensão mágicoreligiosa e icônica, em estereótipos negativos, bem como em significados que se referem à marginalização social sofrida, à maternidade e ao cuidado com o grupo e família ciganos. Por meio da análise do processo de ancoragem psicológica, foi possível verificar que tais significados se organizam a partir dos seguintes fatores: F1 – ‘estereótipos positivos’, com imagem positiva, porém romantizada das ciganas, constituída por elementos como ‘misticismo’, ‘leitura de mão’, ‘danças’, ‘bonitas’ e ‘vestidos coloridos’, enquanto no polo opostosão retratadas a partir de ‘estereótipos negativos’, tais como ‘sujas’, ‘ladras’, ‘malvadas’, ‘pedem esmola’ e ‘usam os filhos’; e F2 – ‘imagem descritiva da cigana’, a partir de elementos como ‘cabelos longos’, ‘saias’, ‘coloridas’, ‘rodeadas de crianças’ e ‘dentes de ouro’, em oposição à ideia da cigana como uma ‘mulher realizada’, que é ‘livre’, ‘trabalhadora’, ‘bonita’, ‘mãe’ e ‘chefe de família’. Por meio da análise da ancoragem social, foi possível verificar que contribuem para formação dos estereótipos positivos os respondentes do sexo masculino, os de nacionalidade brasileira e aqueles que não moram perto de acampamentos ciganos, enquanto nos significados negativos projetamse as mulheres, os italianos e aqueles que residem perto de grupos ciganos. No segundo fator, associamse à descrição icônica da cigana os brasileiros e as mulheres, e à imagem da ‘mulher realizada’ os homens e os de nacionalidade italiana. Como dimensão que investiga a variabilidade do campo representacional e as tomadas de posição frente ao objeto social considerando à natureza das relações sociais, na ancoragem psicossocial verificouse que a dimensão estereotípica de valoração positiva da representação social em análise associase aos sujeitos com tomada de posição afetiva positiva (‘tranquilidade’, ‘simpatia’ e ‘admiração’) e valores sociais religiosos, e aqueles com valores pósmaterialistas e hedonistas e com afeto negativo de rejeição (‘desprezo’, ‘nojo’ e ‘antipatia’) vinculamse aos estereótipos negativos. Contribuem, por sua vez, para a formação da imagem descritiva das ciganas, os respondentes com valores religiosos e aqueles com afetos positivos, enquanto a imagem da cigana como ‘mulher realizada’ relacionase àqueles que manifestaram sentimentos de medo do desconhecido frente aos ciganos (‘insegurança’, ‘indiferença’ e ‘desconfiança’). Discutese a dimensão social dos afetos e a função dos valores sociais para a constituição das representações sociais em sua relação com a dinâmica do preconceito, há séculos sustentando processos de estigmatização e discriminação contra membros dessa categoria social.

Melotti, G., Bonomo, M. (2015). REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE MULHERES CIGANAS ENTRE BRASILEIROS E ITALIANOS: ANCORAGEM PSICOLÓGICA, SOCIAL E PSICOSSOCIAL. Teresina : Centro Universitário UNINOVAFAPI.

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE MULHERES CIGANAS ENTRE BRASILEIROS E ITALIANOS: ANCORAGEM PSICOLÓGICA, SOCIAL E PSICOSSOCIAL

MELOTTI, GIANNINO;
2015

Abstract

Na atualidade, em diferentes contextos e nacionalidades, como Brasil e Itália, inúmeros episódios de banimento e práticas discriminatórias contra integrantes de grupos ciganos têm sido verificados, fortalecendo as relações de conflito entre os universos cigano e não cigano. Representando os ciganos na generalidade, as mulheres ciganas são o principal alvo dadiscriminaçãocontra essa categoria social, sofrendo duplo preconceito em função da pertença étnica e de gênero. Apoiada na perspectiva não consensual da Teoria das Representações Sociais, proposta pela Escola de Genebra, a proposição deste estudo visa à análise dos diferentes níveis de ancoragem (social, psicológica e psicossocial) para a identificação das posições individuais frente aos diversos núcleos de significados que constituem as representações sociais de mulheres ciganas entre jovens brasileiros e italianos. Participaram da investigação 643 sujeitos (324 italianos e 319 brasileiros), com idade média de 22.81 anos (SD=5.73), sendo 74,33% do sexo feminino. A coleta dos dados foi realizada por meio da aplicação de questionários nas instituições italianas Universidade de Bolonha e Universidade de ChietiPescara e em Universidades pública e privadas da Grande Vitória/ESBrasil. O instrumento de coleta dos dados era constituído pelos seguintes tópicos de informação: dados socioeconômicos, técnica de associação livre para o termo indutor ‘mulheres ciganas’, campo afetivo frente aos ciganos e valores sociais autoatribuídos pelos sujeitos da representação, bem como experiência de contatos com membros de grupos ciganos. O tratamento dos dados foi realizado por meio da análise fatorial de correspondência e da análise de cluster, procedida com o auxílio do software SPADT. Os resultados demostraram que o campo compartilhado foi composto por 3.004 associações livres, com média de evocação de 4.7 por participante, compreendendo significados predominantemente hegemônicos, fundamentados na dimensão mágicoreligiosa e icônica, em estereótipos negativos, bem como em significados que se referem à marginalização social sofrida, à maternidade e ao cuidado com o grupo e família ciganos. Por meio da análise do processo de ancoragem psicológica, foi possível verificar que tais significados se organizam a partir dos seguintes fatores: F1 – ‘estereótipos positivos’, com imagem positiva, porém romantizada das ciganas, constituída por elementos como ‘misticismo’, ‘leitura de mão’, ‘danças’, ‘bonitas’ e ‘vestidos coloridos’, enquanto no polo opostosão retratadas a partir de ‘estereótipos negativos’, tais como ‘sujas’, ‘ladras’, ‘malvadas’, ‘pedem esmola’ e ‘usam os filhos’; e F2 – ‘imagem descritiva da cigana’, a partir de elementos como ‘cabelos longos’, ‘saias’, ‘coloridas’, ‘rodeadas de crianças’ e ‘dentes de ouro’, em oposição à ideia da cigana como uma ‘mulher realizada’, que é ‘livre’, ‘trabalhadora’, ‘bonita’, ‘mãe’ e ‘chefe de família’. Por meio da análise da ancoragem social, foi possível verificar que contribuem para formação dos estereótipos positivos os respondentes do sexo masculino, os de nacionalidade brasileira e aqueles que não moram perto de acampamentos ciganos, enquanto nos significados negativos projetamse as mulheres, os italianos e aqueles que residem perto de grupos ciganos. No segundo fator, associamse à descrição icônica da cigana os brasileiros e as mulheres, e à imagem da ‘mulher realizada’ os homens e os de nacionalidade italiana. Como dimensão que investiga a variabilidade do campo representacional e as tomadas de posição frente ao objeto social considerando à natureza das relações sociais, na ancoragem psicossocial verificouse que a dimensão estereotípica de valoração positiva da representação social em análise associase aos sujeitos com tomada de posição afetiva positiva (‘tranquilidade’, ‘simpatia’ e ‘admiração’) e valores sociais religiosos, e aqueles com valores pósmaterialistas e hedonistas e com afeto negativo de rejeição (‘desprezo’, ‘nojo’ e ‘antipatia’) vinculamse aos estereótipos negativos. Contribuem, por sua vez, para a formação da imagem descritiva das ciganas, os respondentes com valores religiosos e aqueles com afetos positivos, enquanto a imagem da cigana como ‘mulher realizada’ relacionase àqueles que manifestaram sentimentos de medo do desconhecido frente aos ciganos (‘insegurança’, ‘indiferença’ e ‘desconfiança’). Discutese a dimensão social dos afetos e a função dos valores sociais para a constituição das representações sociais em sua relação com a dinâmica do preconceito, há séculos sustentando processos de estigmatização e discriminação contra membros dessa categoria social.
2015
Anais da IX Jornada Internacional sobre Representações Sociais JIRS e VII Conferência Brasileira sobre Representações Sociais CBRS
199
199
Melotti, G., Bonomo, M. (2015). REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE MULHERES CIGANAS ENTRE BRASILEIROS E ITALIANOS: ANCORAGEM PSICOLÓGICA, SOCIAL E PSICOSSOCIAL. Teresina : Centro Universitário UNINOVAFAPI.
Melotti, G; Bonomo, M.
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