A construção de uma imagem social que represente o grupo e seus membros frente à sociedade é um processo complexo que envolve diferentes recursos simbólicos e afetivos. Uma vez que se entra ou nasce em um grupo, é necessário aprender a fazer parte dele e a encontrar ou desenvolver estratégias para permanecer nele. A sociabilidade camponesa, marcadamente aquela que se organiza através da estrutura comunitária, apresenta-se como um contexto de estudo favorável à reflexão acerca da dinâmica grupal e de sua relação com os processos de identidade e de representações sociais. O estudo teve como propósito conhecer os princípios que organizam as tomadas de posição de integrantes de um grupo rural frente às representações sociais de rural e cidade, a partir da análise dos processos de ancoragem psicológica, social e psicossocial. Foram realizadas entrevistas individuais com 200 integrantes de uma comunidade rural do ES, distribuídos em quatro grupos geracionais. O roteiro de entrevista foi composto por questões que focalizavam: dados sócio-demográficos, evocações livres associadas aos objetos rural/cidade, valores sociais endogrupais e experiência de preconceito e de migração campo-cidade. Os corpora de dados foram sistematizados por meio da Análise de Conteúdo e do software SPAD-T. Os resultados indicaram a presença de três princípios organizadores do campo semântico dos objetos rural/cidade, constituídos através de um processo de antinomias: (1) figurativo – “mundo natural vs. mundo artificial”, (2) sociabilidade – “vida feliz vs. vida ruim” e (3) sustentabilidade – “quase auto-suficiente vs. centro dos recursos”. Por meio da análise dos processos de ancoragem foi possível constatar que quanto menor a experiência de contato com a cidade, mais figurativa e estereotipada é a representação dos objetos analisados e, por sua vez, quanto maior a comparação campo-cidade, especialmente a partir de situações conflitivas vivenciadas, mais elaboradas (avaliativas e afetivas) tornam-se as representações sociais dos referidos objetos, denotando a importância do conflito para a construção da identidade endogrupal. Discute-se as funções das representações para os processos de identidade social, que visam preservar o modo de vida da comunidade rural e garantir a sobrevivência de sua sociabilidade através das novas gerações.
Bonomo M., de Souza L., Melotti G., Palmonari A. (2011). REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE RURAL/CIDADE EM UMA COMUNIDADE CAMPONESA: ANÁLISE DOS PRINCÍPIOS ORGANIZADORES. VITÓRIA : GM Editora.
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE RURAL/CIDADE EM UMA COMUNIDADE CAMPONESA: ANÁLISE DOS PRINCÍPIOS ORGANIZADORES
MELOTTI, GIANNINO;PALMONARI, AUGUSTO
2011
Abstract
A construção de uma imagem social que represente o grupo e seus membros frente à sociedade é um processo complexo que envolve diferentes recursos simbólicos e afetivos. Uma vez que se entra ou nasce em um grupo, é necessário aprender a fazer parte dele e a encontrar ou desenvolver estratégias para permanecer nele. A sociabilidade camponesa, marcadamente aquela que se organiza através da estrutura comunitária, apresenta-se como um contexto de estudo favorável à reflexão acerca da dinâmica grupal e de sua relação com os processos de identidade e de representações sociais. O estudo teve como propósito conhecer os princípios que organizam as tomadas de posição de integrantes de um grupo rural frente às representações sociais de rural e cidade, a partir da análise dos processos de ancoragem psicológica, social e psicossocial. Foram realizadas entrevistas individuais com 200 integrantes de uma comunidade rural do ES, distribuídos em quatro grupos geracionais. O roteiro de entrevista foi composto por questões que focalizavam: dados sócio-demográficos, evocações livres associadas aos objetos rural/cidade, valores sociais endogrupais e experiência de preconceito e de migração campo-cidade. Os corpora de dados foram sistematizados por meio da Análise de Conteúdo e do software SPAD-T. Os resultados indicaram a presença de três princípios organizadores do campo semântico dos objetos rural/cidade, constituídos através de um processo de antinomias: (1) figurativo – “mundo natural vs. mundo artificial”, (2) sociabilidade – “vida feliz vs. vida ruim” e (3) sustentabilidade – “quase auto-suficiente vs. centro dos recursos”. Por meio da análise dos processos de ancoragem foi possível constatar que quanto menor a experiência de contato com a cidade, mais figurativa e estereotipada é a representação dos objetos analisados e, por sua vez, quanto maior a comparação campo-cidade, especialmente a partir de situações conflitivas vivenciadas, mais elaboradas (avaliativas e afetivas) tornam-se as representações sociais dos referidos objetos, denotando a importância do conflito para a construção da identidade endogrupal. Discute-se as funções das representações para os processos de identidade social, que visam preservar o modo de vida da comunidade rural e garantir a sobrevivência de sua sociabilidade através das novas gerações.I documenti in IRIS sono protetti da copyright e tutti i diritti sono riservati, salvo diversa indicazione.