Introdução. A problemática em estudo Interrogando as teorias do sujeito comum acerca dos mais diversos problemas e topicos (Vala, 2002), a teoria das representações sociais procura conecer "os conhecimentos e teorias do senso comum que dizem respeito a conceitos abstractos que circulam na sociedade» (Valentim, 2003). Aplicada ao domínio da inteligência, a teoria das representações sociais tem producido neste domínio, investigações relevantes para a comprens ão dos modelos simbolicos e imagens partilhadas, O estudo pioneiro de Mugny e Carugati (1985) sugere que as representações sociais da inteligência evoluem numa dupla função sociocognitiva a partir de um equilíbrio entre por um lado a construção de um universo de explicações mentalmente coerentes e, por outro, a elaboração de uma identidade social e pessoal mentalmente compativel com as normas e valores sociais e historicamente determinados. Seguindo este trabalho inaugural, e numa abordagem bilateral que envolve o inidividuo e a sociedade , as dinâmicas identitarias tem enformado a preocupação central de diversos estudos na area (Amaral, 1997; Faria e Fontaine , 1993; Poeschl, 1998) Enquanto realidades colectivamente produzidas, as representações sociais permitem a partilha de sistemas de significado construídos e moldavo no decurso dos contínuos processos de troca e interacção, Neste sentido, a própria realidade social caracteriza-se pelo seu carácter plástico, móvel e circulante, capaz de influenciar as relações e os comportamentos, No entanto, e apesar do próprio Moscovici (1981) ter enfatizado a natureza dinâmica das representações sociais, o núcleo central de uma dada representação é, frequentemente, caracterizado pela sua consistência, estabilidade e resistência à mudança, características estas que sustentam o próprio consenso da representação (Guimelli, 1993). A natureza socialmente derivada de uma representação social implica, com efeito, algum tipo de consenso, Caso contrário, os significados colectivos que constituem a representação não existiriam (Moloney, Hall & Walker, 2005), Contudo, e na medida em que as próprias interacções quotidianas são marcadas por tensões, inconsistências e negociação, as representações geradas neste contexto não poderiam ser monolíticas (Rose, Efraim, Joffe, Jovchelovitch & Morant, 1995), Pelo contrário, serão - fruto da sua propensão para acomodar a contradição, a tensão e o debate - também elas marcadas pela presença simultânea de conceitos divergentes, ideias inconsistentes e significados paradoxais, Rose et al. (1995) introduzem a ideia de que as representações, mais do que marcadas pelo consenso - entendido como acordo ou partilha de atitudes, opiniões ou valores comuns a um determinado grupo -, são caracterizadas por uma realidade consensual, "que forma o fundo comum dos significados historicamente partilhados, com base nos quais as pessoas discutem e negoceiam" (p, 4), Ou seja, a realidade consensual não implica que os indivíduos partilhem as mesmas opiniões, mas sim que exista uma consciência e uma compreensão das visões comuns, de forma a permitir que os indivíduos, mesmo em desacordo, discutam e argumentem diferentes perspectivas. A coexistência de elementos ambivalentes numa mesma representação torna-se plausível se considerarmos a forma como as representações sociais constituem a realidade social.

Representações sociais da inteligência e práticas educativas: Apresentação de uma investigação em curso / I. Miguel; I. Pires Valentim; F. Carugati. - STAMPA. - (2008), pp. 301-318.

Representações sociais da inteligência e práticas educativas: Apresentação de uma investigação em curso.

CARUGATI, FELICE
2008

Abstract

Introdução. A problemática em estudo Interrogando as teorias do sujeito comum acerca dos mais diversos problemas e topicos (Vala, 2002), a teoria das representações sociais procura conecer "os conhecimentos e teorias do senso comum que dizem respeito a conceitos abstractos que circulam na sociedade» (Valentim, 2003). Aplicada ao domínio da inteligência, a teoria das representações sociais tem producido neste domínio, investigações relevantes para a comprens ão dos modelos simbolicos e imagens partilhadas, O estudo pioneiro de Mugny e Carugati (1985) sugere que as representações sociais da inteligência evoluem numa dupla função sociocognitiva a partir de um equilíbrio entre por um lado a construção de um universo de explicações mentalmente coerentes e, por outro, a elaboração de uma identidade social e pessoal mentalmente compativel com as normas e valores sociais e historicamente determinados. Seguindo este trabalho inaugural, e numa abordagem bilateral que envolve o inidividuo e a sociedade , as dinâmicas identitarias tem enformado a preocupação central de diversos estudos na area (Amaral, 1997; Faria e Fontaine , 1993; Poeschl, 1998) Enquanto realidades colectivamente produzidas, as representações sociais permitem a partilha de sistemas de significado construídos e moldavo no decurso dos contínuos processos de troca e interacção, Neste sentido, a própria realidade social caracteriza-se pelo seu carácter plástico, móvel e circulante, capaz de influenciar as relações e os comportamentos, No entanto, e apesar do próprio Moscovici (1981) ter enfatizado a natureza dinâmica das representações sociais, o núcleo central de uma dada representação é, frequentemente, caracterizado pela sua consistência, estabilidade e resistência à mudança, características estas que sustentam o próprio consenso da representação (Guimelli, 1993). A natureza socialmente derivada de uma representação social implica, com efeito, algum tipo de consenso, Caso contrário, os significados colectivos que constituem a representação não existiriam (Moloney, Hall & Walker, 2005), Contudo, e na medida em que as próprias interacções quotidianas são marcadas por tensões, inconsistências e negociação, as representações geradas neste contexto não poderiam ser monolíticas (Rose, Efraim, Joffe, Jovchelovitch & Morant, 1995), Pelo contrário, serão - fruto da sua propensão para acomodar a contradição, a tensão e o debate - também elas marcadas pela presença simultânea de conceitos divergentes, ideias inconsistentes e significados paradoxais, Rose et al. (1995) introduzem a ideia de que as representações, mais do que marcadas pelo consenso - entendido como acordo ou partilha de atitudes, opiniões ou valores comuns a um determinado grupo -, são caracterizadas por uma realidade consensual, "que forma o fundo comum dos significados historicamente partilhados, com base nos quais as pessoas discutem e negoceiam" (p, 4), Ou seja, a realidade consensual não implica que os indivíduos partilhem as mesmas opiniões, mas sim que exista uma consciência e uma compreensão das visões comuns, de forma a permitir que os indivíduos, mesmo em desacordo, discutam e argumentem diferentes perspectivas. A coexistência de elementos ambivalentes numa mesma representação torna-se plausível se considerarmos a forma como as representações sociais constituem a realidade social.
2008
Percursos da investigação em psicologia social e organizacional
301
318
Representações sociais da inteligência e práticas educativas: Apresentação de uma investigação em curso / I. Miguel; I. Pires Valentim; F. Carugati. - STAMPA. - (2008), pp. 301-318.
I. Miguel; I. Pires Valentim; F. Carugati
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Utilizza questo identificativo per citare o creare un link a questo documento: https://hdl.handle.net/11585/100571
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